A dor abdominal funcional é uma condição frequente na prática pediátrica, marcada por episódios repetidos de dor sem uma causa orgânica clara. Estudos apontam que até 90% dos casos de dor abdominal crônica em crianças têm origem funcional, causando um impacto considerável na vida das crianças e de suas famílias.
Causas da Dor Abdominal Funcional
A origem da dor abdominal funcional é multifacetada, refletindo uma interação complexa entre aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Os principais fatores incluem:
– Hipersensibilidade visceral: uma sensibilidade aumentada dos órgãos digestivos a estímulos comuns, levando a uma sensação de dor mais intensa.
– Alterações na motilidade gastrointestinal: irregularidades nos movimentos intestinais que resultam em desconforto e dor.
– Fatores psicossociais: situações de estresse, ansiedade e experiências traumáticas podem iniciar ou intensificar os sintomas.
– Disfunção no eixo cérebro-intestino: uma comunicação inadequada entre o sistema nervoso central e o trato gastrointestinal, afetando a percepção da dor.
Diagnóstico
O diagnóstico é fundamentalmente clínico, baseado nos critérios de Roma IV, que compreendem:
– Dor abdominal que ocorre episodicamente ou de forma contínua, sem estar associada a eventos fisiológicos, presente no mínimo quatro vezes ao mês nos últimos dois meses.
– Ausência de sinais de alerta que indiquem uma doença orgânica, tais como perda de peso, febre, vômitos persistentes ou presença de sangue nas fezes.
– Exclusão de outras condições médicas após uma avaliação cuidadosa.
Estratégias de Manejo
O tratamento da dor abdominal funcional deve ser personalizado e pode incluir:
– Educação e validação: explicar para a criança e sua família que a dor é real e não fruto da imaginação, o que promove uma melhor compreensão e adesão ao tratamento.
– Modificações no estilo de vida: incentivar a prática regular de atividades físicas, manter uma boa higiene do sono e adotar técnicas de relaxamento para aliviar o estresse.
– Intervenções dietéticas: embora não se recomende dietas restritivas de modo geral, identificar e eliminar alimentos específicos que desencadeiam sintomas pode ser útil.
– Terapias psicológicas: terapias como a cognitivo-comportamental e a hipnoterapia têm mostrado sucesso em reduzir a frequência e intensidade da dor.
– Tratamento farmacológico: em casos específicos, medicações como antidepressivos tricíclicos ou antiespasmódicos podem ser utilizados, sempre sob supervisão médica.
É crucial que o manejo da condição seja feito por uma equipe interdisciplinar composta por pediatras, gastroenterologistas pediátricos, psicólogos e nutricionistas, visando uma abordagem eficaz e integrativa.
Conclusão
A dor abdominal funcional em crianças representa um desafio que demanda uma abordagem atentiva e compassiva. Compreender as causas e adotar estratégias de manejo adequadas são passos imprescindíveis para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Referências Consultadas
– Departamento Científico de Gastroenterologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Dor abdominal crônica em pediatria e consumo excessivo de FODMAPS – relato de caso”. Disponível em: https://residenciapediatrica.com.br/detalhes/1266/dor%20abdominal%20cronica%20em%20pediatria%20e%20consumo%20excessivo%20de%20fodmaps%20-%20relato%20de%20caso
– Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. “Principais Questões sobre Dor Abdominal Crônica na Criança”. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-dor-abdominal-cronica-na-crianca/
– Childhood Functional Gastrointestinal Disorders: Child/Adolescent
Hyams, Jeffrey S. et al.
Gastroenterology, Volume 150, Issue 6, 1456 – 1468.e2. https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(16)00181-5/fulltext